PSICOLOGIA DO TRABALHO E ATENÇÕES PSICOSSOCIAIS: EXPERIÊNCIAS NO SINDICATO DOS TRABALHADORES E DAS TRABALHADORAS DA AGRICULTURA FAMILIAR

COSMA ELIEUZA RODRIGUES PEREIRA, LEONARDO ARAÚJO LIMA

Resumo


Os trabalhadores e trabalhadoras rurais há muito vem passando por diversas ondas de dificuldades vivenciais, no campo familiar, por conta das migrações dos mais jovens para os centros urbanos em buscas de possibilidades de empregos, no campo financeiro, onde devem se refazer, se reinventar para prover o sustento diário, seja na produção de insumos para consumo próprio, seja na venda de produtos, seja no campo assistencial, onde devem ir à busca de políticas públicas de programas de controle à pobreza. Fora essas, e dezenas de outras problemáticas, o ano de 2020 ainda trouxe o advento da COVID-19, doença com altos níveis de contágio e proliferação. A COVID-19 desestabilizou estruturas mundiais, estas econômicas, de produção, e de vivências sociais, sendo necessárias modificações nas formas de se relacionar com os familiares, com os trabalhos e sobrevivência. As mudanças impostas mundialmente foram nítidas e amplamente debatidas, mas quando pensamos nos setores rurais, não temos, de fato, uma visão clara de como o vírus modificou a vida dos moradores. Assim, objetivando entender as dinâmicas modificadas, destruídas e reconstruídas, assim como as questões sociais e psíquicas, objetivas e subjetivas, de trabalhadores rurais, o estágio desenvolveu-se na cidade de Pedra Branca – CE, no Sindicato dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais Na Agricultura Familiar (SINTRAF), no período de setembro a dezembro de 2020. Para fins de coleta de dados utilizou-se como instrumento o Questionário de Acompanhamento Psicossocial dos Trabalhadores. O instrumento contava com nove questões abertas, onde, mediante conversa com os trabalhadores, questionou-se sobre em como, e se, a doença modificou suas relações sociais, tal como as dinâmicas de trabalho e saúde física e mental. Foram entrevistados, até o momento, dezesseis ruralistas, com idade média de cinquenta anos, sendo dividido em onze mulheres e cinco homens. Mediante as conversas soube-se que, nas suas realidades, pouca coisa foi modificada, por se tratar de uma zona rural, no interior sertanejo, souberam da doença por televisão e/ou rádio. Outra informação dada fora que as diretrizes de cuidado e distanciamento pouco se aplicavam nas comunidades, sendo vistas, quase que exclusivamente, nas idas a cidade, onde, ao irem realizar alguma tarefa, tinham que se adequar ao uso de máscaras e distanciamento. Faz-se importante pontuar que mesmo com os relatos afirmando a pouca mudança, duas das entrevistas relataram terem tido COVID-19, não sabendo como ou onde ficaram infectadas. Outro ponto alavancado, pelas mulheres, exclusivamente, era o medo, uma “agonia”, que pode ser interpretada como ansiedade em decorrência da situação. Portanto o que percebemos a partir das respostas dos questionários é ainda um distanciamento, não apenas geográfico, mas social, em relação aos trabalhadores rurais, onde, mesmo que não estivessem de fato inseridos nos epicentros das situações pandêmicas, desenvolveram sintomas preocupantes, seja a própria doença, sejam as ansiedades. Outro ponto digno de nota é o não conhecimento daquilo que se sente, onde a ansiedade é descrita como “agonia/ preocupação/ medo”, dificultando possíveis intervenções mais pontuais.

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ISSN: 2446-6042

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